18 de março de 2014

Clube do Livro (Março): Sócios no Crime

— Não seria emocionante — continuou Tuppence — se ouvíssemos uma tímida pancada na porta, corrêssemos para abri-la e um morto entrasse cambaleando?

— Se estivesse morto não poderia cambalear — retrucou Tommy.

— Você entendeu — disse Tuppence. — Eles sempre cambaleiam antes de morrer e cair aos nossos pés, tentando articular palavras enigmáticas: “o leopardo malhado”, ou coisa parecida.

— Eu lhe aconselharia um curso sobre Schopenhauer ou Emmanuel Kant — disse Tommy.
Março foi meu mês de indicações de livros favoritos no Clube do Livro e entre os títulos da minha lista, o escolhido foi esse título da Agatha Christie.

Acho que já disse antes em algum lugar que houve uma época da minha vida em que eu praticamente só lia romances policiais e em especial, a Rainha do Crime. Eu devorava um livro atrás do outro e sonhava com Sherlock e Poirot e Dupin e o Padre Brown... gostava muito especialmente de uma coleção chamada Salve-se Quem Puder, livros interativos em que se davam pistas e enigmas para que pudéssemos resolver o imbróglio até o final da história...

Curioso é que à época, da tia Christie, eu só conhecia o Poirot e a Miss Marple (e confesso que dessa última nunca gostei particularmente...). Foi só mais velha que me deparei com a série de Tommy e Tuppence e, caramba, como eu me diverti...

Os dois se conheceram à época da guerra e depois que ela acabou e tiveram de voltar para casa, ainda meio viciados em adrenalina, casaram e decidiram cuidar de uma agência de detetives possivelmente envolvida em espionagem para os russos. Brilhante idéia, não?

Sócios no Crime é um livro de contos e o mais interessante é que a cada capítulo os dois detetives amadores adotam o estilo de investigação de um investigador famoso na ficção – incluindo aí o próprio Hercule Poirot. De espionagem – que é o mote para que eles comecem na nova carreira – a assassinatos, seqüestros e tráfico de drogas, há de tudo um pouco aqui.

O curioso, considerando que o tema principal do livro gira sempre em torno do crime – é o humor com que os personagens desempenham suas investigações e a clara cumplicidade do casal protagonista. Tommy tem a típica fleuma britânica, ao passo que Tuppence é mais impulsiva, de forma que juntos eles se equilibram muito bem.

Existe um volume antes de Sócios no Crime, que conta como Tommy e Tuppence se conheceram e acabaram se apaixonando e casando, mas a introdução desse segundo livro é o suficiente para você entender quem são os personagens mesmo sem ter lido O Adversário Secreto (que também recomendo).

E o que me faz adorar essa história é exatamente isso: a continuação da vida deles depois do 'felizes para sempre', a forma como eles se equilibram, o humor que as interações dos dois revelam. Até mais que os próprios casos - que também são interessantes - essa convivência dos personagens é que me seduz aqui.

Claro, também tem o detalhe de que, após ler este livro, surgiram mais uma dúzia de títulos na minha lista para ler - porque mais divertido que a própria história, para mim, é encontrar as referências cruzadas...


A Coruja


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