22 de agosto de 2013

Projeto Baudelaire: O Espetáculo Carnívoro

Caro Leitor,

O adjetivo "carnívoro", que aparece no título deste livro, significa "comedor de carne", e isso já é suficiente para você interromper a leitura desde já. Este volume carnívoro contém uma história tão perturbadora que irá revirar o seu estômago muito mais do que a mais desbalanceada das refeições.

Para evitar causar desconforto em você, seria melhor eu não mencionar nenhum dos enervantes ingredientes desta história, especialmente um mapa confuso, uma pessoa ambidestra, uma multidão indócil, uma prancha de madeira e Chabo, o Bebê-Lobo.

Infelizmente para mim, todo o meu tempo está preenchido por pesquisas e registro das vidas desagradáveis e desencantadas dos órfãos Baudelaire. Já o seu tempo poderia ser mais bem aproveitado com alguma coisa mais palatável, por exemplo comer legumes ou alimentar outra pessoa com eles.

Respeitosamente,
Lemony Snicket
Chegamos ao nono volume das Desventuras em Série - mais perto do que longe do fim, mas as coisas não parecem que vão melhorar em algum futuro próximo... e a essas alturas da história, o leitor talvez até se pergunte “eu sou masoquista? Porque só sendo masoquista para gostar tanto de sofrer...”

Claro que depois de tantas desgraças, e tantos livros, o leitor está já emocionalmente investido e decidido a chegar até o final da história faça chuva ou faça sol. E assim é que chegamos ao O Espetáculo Carnívoro e descobrimos duas coisas importantes: (1) como Olaf consegue sempre descobrir onde as crianças estão e (2) o conde talvez seja a menor das preocupações que os Baudelaire possuem.

Na verdade, se quiserem descobrir a verdade e sobreviver, talvez Violet, Klaus e Sunny tenham de se aliar ao grande vilão que os persegue desde o primeiro volume.

O aparente maniqueísmo da série dá uma completa reviravolta aqui. Não existe mais uma divisão clara de mocinhos e bandidos, na medida em que os próprios protagonistas passam a utilizar dos mesmos artifícios dos vilões – mentiras, disfarces, preconceitos. A linha divisória do que é ou não moralmente aceitável pode ser cruzada a qualquer minuto em nome da ‘verdade’.

Porque é atrás disso que os irmãos estão: a verdade. E para chegar até ela, eles parecem dispostos a seguir pelo pensamento maquiavélico: os fins justificam os meios. Ou será que não? Será que, como os Baudelaire, Olaf também não tem um objetivo maior, algo que de certa forma justifique todos os crimes que ele cometeu até aqui?

O final desse livro lança todas essas questões, e te dá um nó no estômago. Tecnicamente, Desventuras em Série é um livro infantil, mas quão infantil é ver a destruição que você ajudou a perpetrar em nome de um objetivo que você considera honrado?

Fica a pergunta para vocês...


A Coruja


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