23 de julho de 2013

Para ler: Foras da Lei Barulhentos, Bolhas Raivosas e Algumas Outras Coisas...

O CLUBE EPICURIANO, NAQUELA ÉPOCA, ERA UMA TURMA DIVERTIDA E barulhenta. Eles sabiam mesmo farrear. Eram cinco:

Havia Augustus DuasPenas McCoy, que tinha o tamanho de três homens, comia por quatro e bebia por cinco. Seu bisavô fundara o Clube Epicuriano com a renda de uma tontina117 da qual se esforçara muito, à maneira tradicional, para ser o beneficiário.

Havia o professor Mandalay, baixinho, nervoso e cinza como um fantasma (e talvez fosse um fantasma — coisas muito estranhas já aconteceram), que só bebia água e comia porções minúsculas em pratos que pareciam travessas. Tudo bem, para isso não é preciso ter interesse em gastronomia, e Mandalay sempre chegava ao âmago de cada prato colocado à sua frente.

Havia Virgínia Boote, a crítica de restaurantes, que já fora dona de grande beleza, mas agora era uma ruína solene e magnífica, e se deliciava em sua derrocada.

Havia Jackie Newhouse, descendente (de maneira duvidosa) do grande amante, comilão, violinista e duelista Giacomo Casanova. Assim como seu famoso ancestral, Jackie Newhouse já tinha partido um sem-número de corações e devorado um sem-número de grandes pratos.

E havia Zebediah T. Crawcrustle, o único epicuriano que não tinha um tostão: ele vinha da rua para as reuniões do grupo, com a barba por fazer e uma garrafa de bebida barata num saco de papel pardo, sem chapéu, sem, sobretudo e, muitas vezes, quase sem camisa, mas comia com mais apetite do que todos os outros.
Estou me sentindo desapontada por não ter conseguido gostar tanto deste livro ao final da leitura quanto gostei dele quando nos encontramos pela primeira vez numa estante de livraria... Do título aos autores que participaram da antologia, ele tinha tudo para se tornar um favorito.

Contudo...

Contudo, eu tenho de aprender a parar de comprar coletâneas de contos só porque tem o nome do Neil Gaiman na capa, especialmente porque na maior parte das vezes, quando faço isso, acabo descobrindo que eu já tinha lido a história dele naquela antologia em alguma coletânea própria do homem.

Não, sério... eu tenho umas quatro ou cinco aquisições que catei porque tinha o nome do Gaiman entre os autores e aí quando eu chegava na história dele, descobria que já tinha lido aquele conto em Coisas Frágeis ou Smoke and Mirrors. Não fiquei louca da vida porque essas antologias me fizeram descobrir outros autores que entraram na minha lista de querências, mas me decepcionei um pouco com essa repetição infinda...

Os contos, de uma maneira geral, são bons, mas nada que te faça cair da cadeira ou ficar ‘oh, meu deus, esse livro mudou minha vida’. O grande problema dele é que a maturidade das histórias é muito... variável. Há contos ridiculamente bobinhos, bem infantis e outros mais maduros, até um tanto cruéis.

Simpatizei especialmente com as duas primeiras histórias: Pequeno País do Nick Hornby e Lars Farf, pai e marido excessivamente temeroso, que se concentram em pequenos detalhes e sentimentos e, já ao final, O Telefone da ACSE, que é também um conto bastante terno.

O projeto gráfico, por outro lado, é simplesmente fantástico, primoroso, com ilustrações para todas as histórias – e pelo menos isso foi novidade para mim ao ler O Pássaro de Sol do Gaiman (que, de toda forma, é uma das minhas histórias favoritas dele...).

De forma geral, ainda acredito que o volume teria se saído melhor com uma seleção mais balanceada das histórias a fazer parte da antologia. Não foi uma perda de tempo, mas tinha potencial para ser bem melhor...


A Coruja


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Um comentário:

  1. Também me decepcionei ao descobrir que o conto do Gaiman não era inédito, mas no final amei esse livro, achei muito divertido e me apaixonei pelo projeto gráfico. É verdade que os contos são irregulares, mas eu gostei de vários dos mais infantis também. :)

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