7 de março de 2013

Projeto Pratchett: A Blink of the Screen

A tradicional inimizade entre anões e trolls tem sido explicada por uma simples declaração: uma espécie é feita de rocha; a outra, de mineiros. Mas a verdade é que a hostilidade está lá porque ninguém é capaz de se lembrar de quando ela não estava, e assim ela continua porque tudo é feito em plenamente justificável vingança pela vingança que foi feita em resposta à vingança pela vingança que foi feita antes, e assim por diante. Humanos nunca fazem esse tipo de coisa, não muito.
Só falta um livro para que eu termine oficialmente de ler a série Discworld e estou adiando o dia, sem ter muita certeza de como vou me sentir quando essa realidade chegar. Tudo bem que sir Pratchett escreveu outros livros, incluindo alguns spin-offs da própria série em colaboração com outros autores... mas não vai ser a mesma coisa...

Por sorte, já foi anunciado que ele está trabalhando num novo título (que não será o esperado Raising Taxes com o senhor Moist Von Lipwig) no mundo do Disco e aí é cruzar os dedos e torcer para que ele apareça logo.

Enquanto isso, vou me distraindo com outras obras do homem de chapéu... entre as quais, essa antologia de contos que incluiu pérolas como o primeiro texto publicado de Pratchett, aos treze anos: The Hades Business, onde o Diabo decide procurar um publicitário para melhorar a imagem do Inferno e transformá-lo num... parque temático?

O livro está dividido em duas partes – contos avulsos e histórias passadas no Disco; os quais, de uma forma geral, e em sua maioria, eu já conhecia. E cada uma das narrativas começa com uma nota explicativa do Pratchett sobre as circunstâncias que o levaram a escrever aquilo.

Você pode reconhecer de onde veio o nome de um certo mago em Ricemangle, the gnome of Even Moor, que também prenuncia a história de uma trilogia infantil que Pratchett escreveu posteriormente e tem um clima muito parecido com o de Toy Story (pelo menos para mim.). Há críticas à burocracia (imposto sobre a respiração, sério?) e outras modernidades (reality shows de gente tentando viver nos dias de hoje como se vivia na Idade Média...); os vários motivos pelos quais as galinhas atravessaram a estrada (ou melhor, a luta tecnológica envolta na necessidade de atravessar a estrada), viagens no tempo e Rei Arthur transformado em uma garota e outras tantas genialidades.

Você encontrará a essência do Morte muito antes dele se tornar o Morte de Discworld; e as raízes de The Long Earth em The High Meggas e um natal de pesadelos, preso dentro de cartões natalinos vitorianos.

Mas o melhor de todos para mim, aquele que valeu por toda a antologia e que podia ter se transformado num livro por si só que eu ficaria feliz, foi o Final Reward, onde um escritor de livros estilo Conan, o Bárbaro decide matar seu protagonista no último livro da série... para então baterem em sua porta e, adivinhe só quem está em seu capacho? Exatamente, o herói protagonista.

Adoro narrativas metalingüísticas! E a forma como a ação se desenrola nesse conto me lembrou de todos os motivos pelos quais amo de paixão sir Pratchett.

Enfim, gostei muito de A Blink of the Screen não apenas pela curiosidade de ver a evolução da escrita de um dos meus autores favoritos de todos os tempos, como também pela forma como você é capaz de divisar em muitas dessas histórias conceitos e idéias que retornariam em algumas de suas principais obras.


A Coruja


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