14 de março de 2013

Para ler: Black Swan, White Raven/Black Thorne, White Rose

The power of marchen, and the reason they have endured in virtually every culture around the globe for centuries, is due to the ability to confront unflinchingly the darkness that lies outside the front door, and inside our own hearts. The old tales begin 'Once upon a time' or 'In a land far, far away…', yet they speak to us about our own lives here and now, using rich archetypal imagery and a language that is deceptively simple, a poetry distilled through the centuries and generations of storytellers.
Li essas duas antologias uma seguida da outra e, curiosamente, a primeira demorei mais de mês para chegar ao final, enquanto que a segunda foi coisa de três dias para devorar, isso porque as duas tinham praticamente o mesmo tamanho. Não foi nem uma questão de uma antologia ser melhor que a outra (embora elas tenham uma certa diferença de tom de que vou falar mais para frente), até porque ambas foram organizadas pelas mesmas pessoas e possuem os mesmos temas -, mas porque passei por um período de ressaca literária em que só o que eu queria da vida era dormir...

Às vezes acontece, não é verdade?

Bem, como, creio eu, fica óbvio só de olhar para os títulos, esses dois livros têm como tema ‘contos de fadas’ – cada autor ficou aqui a cargo de repensar uma história clássica, quer focando em outros aspectos, aprofundando outros personagens ou mesmo traduzindo essas histórias para nosso mundo, nosso tempo, nossa realidade.

Como em toda antologia, há altos e baixos. Em Black Swan, White Raven (que foi o que mais me demorei) há vários destaques que valem à pena ser mencionados: The Trial of Hansel and Gretel, de Garey Kilworth, onde as duas crianças se vêem diante de um tribunal por ter queimado uma boa e inocente senhora e lhe roubado a fortuna (e talvez queimar as crianças por assassinato e bruxaria seja apenas uma forma de a cidade pôr as mãos no ouro...); o melancólico, mas esperançoso Rapunzel de Anne Bishop e o idílico, mas também amargo True Thomas de Bruce Glassco, que me fez pensar em baladas medievais e lendas arturianas.

Contraditoriamente, a história para a qual eu mais tinha expectativas, um conto de Susanna Clarke, foi um dos que menos me chamou a atenção. Ao final do livro, eu tinha dois favoritos: The True Story de Pat Murphy, em que Branca de Neve foi na verdade salva pela madrasta de um pai pedófilo (me lembrou muito Snow, Glass, Apples do Gaiman, especialmente porque a história é narrada em primeira pessoa pela Rainha) e Steadfast de Nancy Kress, que retoma o soldadinho de chumbo e a bailarina em meio às Guerra Napoleônicas – este tanto me fascinou quanto me incomodou, o mesmo tipo de cautela que sinto lendo os contos fantásticos e por vezes diabólicos de E. T. A. Hoffman (fiquei com Coppelia o tempo inteiro na cabeça...)

Black Thorne, White Rose, que li depois tem um tom diferente. Depois descobri que o peguei na cronologia errada, porque ele foi publicado primeiro que o outro e talvez por isso seja mais fiel ao espírito dos contos de fadas. Nada contra discussões sobre feminismo, mas não foi exatamente para levantar bandeiras que peguei essas antologias – e Black Swan, White Raven me incomodou um pouco em sua contínua necessidade de ‘panfletarismo’, de personagens femininas centrais que nem sempre merecem toda a importância que os autores querem dar para elas, uma importância que se embasa na idéia de feminilidade (seja lá o que isso signifique para eles).

O que é bizarramente contraditório é que esse segundo livro (ele é o segundo nessa série de antologias e é também o segundo que li) me conquistou... com uma versão de A Bela Adormecida.

Pois é, podem me bater...

Seja como for, Stronger than Time de Patricia C. Wrede deu uma reviravolta tão legal na história... há fantasmas, responsabilidades a serem cumpridas e um final agridoce que achei muito digno.

Além disso, adorei também The Brown Bear of Norway de Isabel Cole, que bebe na fonte de contos como A Bela e a Fera e o meu favorito East of the Sun and West of the Moon; o divertido Godson de Roger Zelazny, que fala de um garoto apadrinhado pela Morte (e certos detalhes da história me fizeram lembrar do Pratchett, tanto que coloquei Zelazny na minha lista de futuras leituras) e uma versão histórica de Rumplestiltskin em que criatura é identificada como um usurário judeu na Rússia do período dos pogroms – e a comparação e sutileza de Jane Yolen em seu Granny Rumple é tanto exata quanto angustiante.

Enfim, são dois livros bem interessantes, com fascinantes releituras de muitos dos contos que crescemos ouvindo – na maioria das vezes bebendo direto da fonte, de um tempo em que contos de fadas eram histórias sangrentas, sensuais, mergulhando fundo na psique humana. Vale à pena conferir se tiverem oportunidade.


A Coruja


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